Porquê que não nos ensinam a sermos (simplesmente) felizes?
Considero uma pergunta tão pertinente, porque tudo o que acontece parece que apenas tem a capacidade de nos deixar tristes. Porque é mais fácil sentirmos a tristeza do que a felicidade? Lembro-me de uma senhora bem mais velha do que eu, perguntar-me se não tinha problemas na minha vida. Fiquei sem perceber muito bem o teor da questão, então ela continuou, é porque está sempre a rir e com um ar feliz, por isso não deve ter problemas. Quase me senti ofendida e também não sei explicar porquê, mas naquele momento senti-me diferente e alheia à “realidade”. E querem saber? Aquele sorriso tem-se vindo a apagar …
A felicidade às vezes parece incomodar os demais e senti que teria que regular os meus níveis de riso. No meu primeiro trabalho, uma outra senhora virou-se para a minha patroa e disse-lhe que devia ser muito bom trabalhar com uma pessoa como eu, assim tão risonha, ao que ela respondeu, com o nariz meio de lado e uma expressão incomodada: “nem sempre é fácil”.
Tramado, né?!
Mas o que é isto da felicidade, de ser/sentir feliz? Hoje muito se fala na procura da felicidade, na busca da felicidade, em encontrar a felicidade e, com razão, pois parece que ela anda mesmo perdida, talvez esteja a confinar!!! Tanta procura sem frutos, porque razão será?
Bem…
A felicidade é algo que existe por si só, sem causa ou consequência.
Ao longo do nosso crescimento, somos educados a valorizar a felicidade a propósito de um acontecimento: ohh é Natal, não estás tão feliz?; ohhh é o teu aniversário que felicidade!. Isto quer dizer que em todos os outros momentos não somos felizes. Como não nos sentir rejubilados quando o sol acaricia a nossa cara ou quando a chuva lava as nossas lágrimas ou quando o vento nos envolve num abraço arrepiante? Como nos podemos sentir (aparentemente) “mais felizes” quando nos oferecem uma Pandora (e peço perdão pela (má) publicidade) que, ainda por cima, de vez em quando, nos arranca um pelito ou outro e nos provoca uma dor fininha, em vez daquela florzinha do campo que nos é oferecida, do nada, e colocada sobre a nossa orelha?
É por não compreendermos que a felicidade está na simplicidade que nos custa tanto “sobreviver” aos confinamentos …. É em ti que vive a felicidade e não no ir ao shopping ou comer no teu restaurante favorito. A felicidade não se compra nem se pode procurar, porque ela simplesmente existe em ti, só tu tens o poder de a resgatar.
A felicidade não está naquilo que acumulamos nos nossos armários, gavetas, arrumos, garagens e afins, muito pelo contrário, é essa acumulação que nos traz tristeza, amargura, desilusão e insatisfação. Não há um fim quando almejamos bens materiais, porque hoje o topo é um Ferrari e amanhã já é um Lamborghini. Quando sobes uma montanha apercebeste do cume de outra, ainda mais alta e imponente e assim sucessivamente. Por isso, não podemos basear a nossa experiência de felicidade às coisas, mas sim, a simplesmente nada.
Tu és a felicidade e a felicidade és tu, na mais simples versão de ti.
E para saberes qual é a versão mais simples de ti, despida de funções e papéis, precisas de resgatar a tua criança interior. Ao fazê-lo encontrarás a magia que se foi perdendo ao longo da tua vida adulta.
Fecha os olhos, sente-te a viajar no tempo, num tempo em que mais nada importava senão brincar … recorda as tuas brincadeiras favoritas, lembra aquelas gargalhadas tão boas e naturais, vê-te na tua versão mais genuína e verdadeira.
Criança plena de maravilhas,
Ensina-me a soltura,
O riso é a sua Entrega,
Em inocência e alegria,
Sorrindo eu volto
A me sentir criança.
– Jamie Sams, in As cartas do caminho sagrado, a descoberta do ser através dos ensinamentos dos índios norte-americanos.(1990)
E porque este não poderia terminar de outra forma, despedimo-nos em jeito de humor:
Um homem regressou certo dia a casa. Encontrou os seus filhos e os filhos do vizinho sentados nos degraus, então perguntou-lhes:
– O que estão a fazer?
Responderam:
– Estamos a brincar às igrejas.
O homem ficou baralhado, porque estavam simplesmente sentados, sem fazer nada. Perguntou:
– Que género de igreja?
Responderam:
– Já cantámos, já pregámos, já rezámos. Já fizemos tudo, agora estamos sentados mos degraus a fumar.
– Osho, in O voo do pássaro – Histórias zen para a vida quotidiana. (2014)
Namasté,
Até breve.