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Vinte e seis euros e uma aventura tão Beautiful!!
Há já alguns anos tenho o privilégio de estar sob a proteção das asas quentinhas da Coruja. Mas não pensem que a coruja me deixa estar sempre no quentinho das suas asas… Nada disso!!! De olhos e ouvidos bem abertos a coruja está sempre atenta às suas crias (sim, quer ela quisesse ou não teve de me “adotar”).
Então hoje vou contar-vos uma das muitas aventuras que já vivi pelas asas desta coruja.
No princípio do ano 2017, sem trabalho há 3 meses, encontrava-me num período emocional de grande ansiedade.
Numa das imensas conversas com a coruja ela disse-me para ler o livro “Autobiografia de um Iogue”, estando nós no Fórum naquele preciso momento dirigimo-nos à Bertrand para o comprar, mas estava esgotado e custava 26€.
Nessa altura disse à corja que o livro era muito caro. A coruja apenas disse: “Quando tiver apenas 26€ na sua conta estou disposta a ir consigo viver uma aventura e também levo apenas 26€ no bolso.”
E passado umas semanas, com a conta com 26€, ao passar numa agência de viagens disse à Coruja: ainda havemos de fazer uma viagem juntas!” Acho que ainda não tinha acabado de dizer isto e já estava sentada em frente ao senhor da agência que só não fugiu de nós a sete pés porque não podia ( a coruja tinha uma manta que o intimidou ).
Com a pré-reserva da viagem para os Açores feita a coruja apenas me disse: “tem até amanhã para decidir se vai ou não! EU VOU!”
Sem dinheiro para pagar a viagem, mas com a certeza que a viagem seria uma bênção tive de fazer algo muito difícil para mim, que nunca tinha feito até então. Depois disto e de conseguir pagar a viagem lá fomos nós rumo aos Açores, com tudo controlado (pensava ingenuamente eu). Já tínhamos o contacto do Rent-a-Car para alugar carro, hotel reservado e o roteiro com os pontos a visitar assinalados.
Mas assim que aterramos tudo fugiu do controlo e a coruja entrou em ação para me ensinar a estar atenta aos sinais do Universo e não fazer nada de caso pensado. E, desta feita, vi desaparecer num ápice a montra do Rent-a-Car e dei por nós a entrar num táxi com um turista que acabou por dividir connosco a viagem contra a vontade do taxista que a conta disso perdeu a oportunidade de ganhar duas viagens.
Já no dia seguinte achei que tinha convencido a coruja a voltar ao Rent-a-car para alugar um carro. Assim que saímos do Hotel dirigi-me às primeiras duas pessoas que me pareceram confiáveis para perguntar qual era o autocarro para o aeroporto, mas a coruja optou por ficar pé de um grupo de senhores que se encontravam à porta de um hotel bem próximo do nosso.
Eu não consegui nenhuma informação porque as pessoas também estavam a chegar à ilha. Muito desconfiada acabei por me juntar à coruja e ao grupo de senhores com quem ela estava.
Do grupo destacou-se de imediato um senhor, o Júlio, que se prontificou de imediato a ajudar-nos a alugar carro. Eu cada vez ficava mais desconfiada e a Coruja cada vez mais entusiasmada.
Enquanto aguardávamos do dono do Rent-a-car o Júlio explicou que estava na ilha porque era Romeiro e estava com outros Romeiros lá para as tradicionais Romarias pela ilha. Explicou-nos que a tradição é antiga e que os homens da ilha na quaresma percorrem a ilha a pé parando em todas as capelas e igrejas pedindo para que a Ilha não sofra com sismos e vulcões. Os Romeiros durante esta peregrinação são acolhidos por famílias da ilha que lhes dão dormida e comida. Como forma de agradecimento os Romeiros oferecem à família uma pagela com uma oração e um terço benzidos.
O Júlio aina teve tempo de nos falar da sua vida no Canadá e nos aconselhar sítios a visitar (diferentes do roteiro bonito que levava). Sempre que descrevia um desses sítios utilizava a palavra Beautiful. Durante este período de conversa fui contactada para uma entrevista no continente. Só que a entrevista ia decorrer precisamente no dia do nosso regresso e à hora pretendida ainda estaríamos em viagem. Muito aflita questionei se a entrevista não poderia ficar para o dia seguinte e a senhora gentilmente me informou que ia ver o que podia fazer, mas que a direção apenas estaria lá no dia da entrevista.
Muito ansiosa apressei-me a contar tudo à coruja que calmamente me respondeu: “o que for para si será! Se tiver de ir à entrevista vão esperar por si!” E assim foi passado uns minutos ligaram-me de volta e disseram que a direção faria a entrevista comigo à hora que chegasse de viagem (20h:30min).
Neste, entretanto, já tinha chegado o dono do Rent –a-car que não tinha mais nenhum carro disponível no momento. Mas sabem que mais?! Saímos de lá ao volante do carro próprio do dono do Rent-a- Car (novinho em folha). Saímos ainda com o GPS do Júlio que gentilmente nos emprestou contra a vontade dos seus amigos que com toda a certeza acharam que não lho iriamos devolver.
Eu e a coruja andamos toda os dias da nossa viagem a falar no Júlio e a cada paisagem que apreciávamos só nos saia: “Oh Beuatiful!”
Na véspera do Júlio iniciar a Romaria e, tal como combinado, fomos à receção do hotel para lhe devolver o GPS, ele não estava. A coruja queria entregar-lhe o GPS em mãos e quando a coruja quer tudo acontece. Num ápice descobrimos onde o Júlio estava a jantar e, como ainda não tínhamos jantado, decidimos ir lá jantar e entregar pessoalmente o GPS.
Ao entregar o GPS reparamos no espanto de todo grupo e na emoção do Júlio, que em voz alta disse: “Vêm, afinal não é difícil confiar nas pessoas e ajudar alguém que precisa.”
O Júlio ficou mesmo emocionado e só passados alguns minutos é que se dirigiu à mesa onde estávamos. Ofereceu-nos a sobremesa e voltou a agradecer-nos o facto de termos confiado nele e de lhe termos ido devolver o GPS em mãos.
Trocamos contactos e ficou a promessa de um almoço quando o Júlio viesse ao continente.
Para nosso espanto, no dia seguinte, já o Júlio estava em Romaria, no nosso quarto de hotel estavam dois envelopes com os nossos nomes. Dentro tinha uma pagela e um terço benzidos e uma bonita mensagem de agradecimento. O Júlio ofereceu-nos o que os Romeiros oferecem às famílias que os acolhem durante a peregrinação. O Júlio sentiu-se acolhido quando foi ele que nos acolheu primeiro.
Sabem que mais?! Fui à entrevista e o lugar foi meu. Depois desta aventura posso dizer que fui para os Açores com 26€ no bolso e sem trabalho e que no dia do meu regresso consegui um novo emprego.
Fiquem atentos porque esta aventura não ficou por aqui!!!! O universo é beautiful como diria o Júlio e presenteou-nos 18 meses depois com uma grande surpresa que contaremos depois!
Obrigada coruja por me proteger e ao mesmo tempo me fazer crescer tanto!