“Livre como um passarinho”
Olá caro/a leitor/a, encontramo-nos aqui para mais um Recado do Universo, desta vez, sobre um passarinho e a importância do desapego. Obrigada por tudo e boas leituras!
Certo dia, ao regressar a casa, sobrevoa um passarinho de cor verde sobre o meu ombro esquerdo. Pasmei por estar a ver um pássaro tão bonito e tão fora de vulgar; fiquei super curiosa e reparei que ele pousou no passeio do outro lado da rua. Atrevi-me a segui-lo, atravessei a rua e ele caminhava quase correndo pelo passeio. Quando me aproximei, pensei que ele deveria ter algum problema por não estar a voar, tirei o casaco que trazia vestido e, na oportunidade certa, lancei-o e apanhei o passarinho. De perto, era ainda mais lindo. Sentia-me extasiada por ter conseguido, de forma tão fácil, apanhar aquele pássaro tão magnífico.
O que eu não sabia é que aquele animal, tão pequenino, e aparentemente indefeso me iria dar uma lição de vida muito grande.
Perguntei, nas casas vizinhas, uma a uma, se o passarinho lindo lhes pertencia, um pássaro daqueles teria de ser de estimação com certeza, todas responderam-me que não. Já cansada desta busca infortunada, dirigi-me a uma loja de venda de animais de estimação, sita relativamente perto de onde eu o tinha encontrado. Abordei o dono, contando-lhe o sucedido, solicitando que estivesse atento ao aparecimento do possível dono/dona do passarinho verde. Porém, o senhor pareceu-me pouco importado com a minha preocupação e dizia repetidamente: “esse animal é um Agapornis e ele está ensinado, esse animal vai segui-la para todo o lado, é melhor do que um cão”; mas eu continuava a insistir que queria descobrir o/a dono/a, ele insistia: “ você tem aqui um belo exemplar, vai andar no seu ombro para onde quer que vá”. Já estava a ficar um pouco chateada, porque o que eu queria mesmo, era entregá-lo ao seu/sua dono/a, então pedi uma gaiola e comida para o passarinho e questionei qual o tratamento que deveria dar. Recolhi todas as compras e fui para casa cuidar do passarinho, achei que ele tinha fome e sede!
Coloquei, então, o bichinho na gaiola e tratei dele. Entretanto, as minhas filhas chegaram a casa e ficaram perplexas ao ver um passarinho por lá, pois eu sou contra os animais estarem presos e fora do seu habitat, acho que eles merecem viver no seu meio natural e em liberdade.
Contei-lhes o sucedido e elas riram, parecia uma partida bem preparada, mas fui sempre informando que ele só estaria até se encontrar o/a dono/a. Baptizamo-lo de “Verdinho”, por ser a sua cor predominante.
Pouco tempo depois, todos pareciam amar aquele pequeno pássaro, tão curioso e interessante. As minhas filhas procuram tudo sobre a raça e como cuidar dele. Também partilharam que Agapornis significa “o pássaro do amor”: foi uma linda revelação, porque o amor já pairava nos nossos corações por ele!
No dia seguinte, abri-lhe a gaiola para ele andar à vontade em casa, não o conseguia ver fechado. A partir daí ele ensinou-me muitas coisas sobre ele: gostava de estar a dormir em sítios altos, gostava de debicar e cortar folhas das plantas, tive que arranjar um ramo cheio de folhas para ele debicar e cortar, senão destruí-a as minhas plantas, quando me ouvia a mexer nos tachos para cozinhar ficava doido de alegria, então percebi que ele deveria estar habituado a comer junto do/a seu/sua dono/a à mesa, passou também a comer comigo, gostava de tomar banho, gostava de voar para cima de mim, era uma sensação estranha, mas muito boa.
Nessa altura, tinha um telemóvel de teclas, quando ligava a alguém, as teclas emitiam um som que o fazia vir logo ter comigo, percebi que era um som que ele também conhecia.
Alguns dias passaram depois de encontrar o passarinho e ninguém reclamava a sua perda. Continuei a falar com as pessoas na expectativa de encontrar o/a dono/a do “Verdinho”, mas parecia que esse/a dono/a tinha evaporado do mapa.
Os dias foram passando e o amor por ele crescia, já sentia que aquele ser estava ali por algum motivo. Qual era esse motivo, é que eu não sabia…
No 10º dia, o “Verdinho” já tinha a minha sala por conta dele e uma das minhas filhas chega a minha casa e diz: – “Ah, agora o “Verdinho” tem uma gaiola grande!”. Aquelas palavras bateram no meu peito e doeu, eu realmente tinha dado ao “Verdinho” uma gaiola grande, era tudo o que eu não gostaria de fazer, sempre defendi os animais pela sua liberdade, naquele momento decidi que de manhã libertaria o “Verdinho”, que lhe daria o poder de escolha, porque eu acho que todo o ser é livre e ninguém tem o poder de prender o outro, mesmo que seja bem tratado, todo o ser tem o direito de escolha.
Nesse momento percebi o ensinamento que o “Verdinho” me trouxe: seria eu capaz de dar a liberdade e desapegar-me de um ser, pelo qual, eu já estava apaixonada!
No 11º dia, pela manhã, abri a porta da sala para a rua e disse-lhe que era livre e que lhe agradecia, do coração, o ensinamento que ele me trouxe: o desapego.
Olhou para mim, olhou para a porta, deixei-o sozinho e fui para outro compartimento que também dava acesso para a mesma varanda. Vi que ele já estava na varanda e que olhava para todos os lados, cheguei-me mais à frente e disse-lhe: ”vai, estás livre”, mas ele manteve-se quieto e a fitar o sítio onde eu me encontrava. Num espaço de segundos, alguém chamou por mim, fazendo-me desviar o olhar, quando voltei a olhar para a varanda, ele tinha partido em liberdade e no poder de escolha que todos os seres têm ou deveriam ter!
O desapego é um ensinamento que eu trabalho nas minhas sessões de coaching, por isso, o meu muito obrigada ao “Verdinho”!
Um ano mais tarde, numa viagem em trabalho a Paris, deparo-me com um pássaro igual ao “Verdinho”, no cimo de uma árvore, fazendo-me lembrar que liberdade daquele ser é também, a minha! Mais uma feliz coincidência do Universo!
Está pronto/a para trabalhar o desapego? Partilhe connosco as suas ideias e sentimentos acerca desta questão.
Conheci o verdinho e acompanhei esta aventura de perto.
Vi-o e ouvi-o chilrear alegremente nas suas tropelias pela casa.
De facto estamos formatados para nos apegar a tudo: objetos, situações, animais, pessoas.
É um desafio entender que nos apegamos e é um desafio ainda maior praticar o desapego.
Gostaria de ter conhecido o “Verdinho” mas tu não me deste tempo…
Como eu entendo e lamento, sobre tudo, tanto animal enjaulado.
O apego é tão comum, está tão enraizado nas nossas crenças que até é difícil reconhece-lo.